Este último ano tem sido um pouco diferente, ao entrar no mestrado tenho desbravado um novo universo, o do envelhecimento, de se tornar idoso e ser idoso. Muitas vezes é angustiante, visto que esbarra no processo de envelhecimento também, e dos meus familiares o que é indissociável. Muitas vezes é difícil sentar na frente do computador e ter que escrever sobre, quantas vezes ao longo deste um ano me peguei pensando sobre este processo. Em paralelo a isso tem minha escuta clínica que foi mudando, e me trazendo um novo olhar, ou melhor uma nova escuta. Envelhecer na nossa sociedade brasileira não é fácil, e com a tendência de termos cada vez mais idosos é urgente pensarmos neste envelhecimento.
Mas talvez você se questione, mas porque já me angustia pensar no meu envelhecimento com apenas 33 anos de idade? Tenho percebido o quanto pensarmos e falarmos do envelhecimento é um tabu, até mesmo para mim. Talvez a primeira vez que tenha refletido um pouco mais sobre o meu envelhecimento tenha sido quando pensei sobre o meu desejo da paternidade. Este desejo da maternidade e paternidade na nossa sociedade muitas vezes, se não na grande maioria esta atrelado de forma inconsciente a um assistencialismo que se espera dos filhos na velhice. Mas muito me questionei sobre isso, mas será que é certo que teremos este tipo de assistência ao envelhecermos dos nossos filhos?
Sempre brinquei com minha mãe sobre o envelhecimento dela, e sempre nesse lugar do assistencialismo. O quanto nossos pais, e nisso acrescento nós mesmos temos medo de falar ou pensar sobre o famoso ou melhor temível "asilo de velhos". Quem para no "asilo dos velhos" no imaginário social são aqueles que não possuem ninguém ou são "descartados" pela família.
Ao longo deste um ano nas aulas, nas discussões, nos filmes, series e nas leituras tenho ressignificado este olhar sobre o envelhecimento, talvez por isso angustia tanto também. Olhar para novas formas, e como outras sociedades lidam com o envelhecimento tem sido uma experiência única. E desmistificar esse terrível "asilo também é algo importante.
Mas talvez o que mais me angustie é perceber que não envelhecemos da mesma forma (talvez seu primeiro pensamento seja, mas isso é obvio), quando digo isto me refiro talvez através de um pensamento um pouco mais social. Quando pensamos que a expectativa de vida é cada vez maior, estamos falando da expectativa de vida de quem? Quem está envelhecendo com melhor qualidade de vida? Quem está chegando ao 90, 100 anos cada vez mais? Ao pegarmos como referência o município de São Paulo onde resido, a diferença da expectativa de vida de um bairro nobre para um da periferia chega a 20 anos (sendo que um deles não chega nem a 60 anos). E são esses questionamentos que me angustia.
E como conseguir escrever sobre algo que te angustia tanto? Este tem sido o meu dilema, quando pensei no mestrado e mesmo na graduação sempre pensei no que poderia fazer de diferente, ou melhor como fazer a diferença com este conhecimento que adquiri? Não queria e não quero fazer uma pesquisa que fique fechada apenas nas paredes da universidade, como pensar naqueles que talvez muitas vezes nem são olhados?
Com isto resolvi criar este blog talvez mais como forma expor um pouco dessa minha angustia como mestrando, pesquisador que anseia fazer a diferença através do conhecimento. E pesquisar sobre a periferia também é meu lugar de fala, ter crescido na periferia de Cuiabá, na década de 90 e que nos anos 2000 foi morar fora do país. Que vivenciou os dois mundos da educação, uma escola pública periférica com quase nada de estrutura e o das escolas públicas de Portugal. Na Universidade não foi diferente experimentei a Universidade Pública portuguesa e a instituição privada (talvez aqui seja uma comparação injusta, visto que era uma Universidade privada voltada a Classe média alta). Mas o que quero dizer com tudo isso é que minhas primeiras sementes pelo desejo de estudar foram plantadas naquelas escolas periféricas, lugar hoje que retomo com pesquisador. Vim de uma família pobre, sem histórico nos estudos (sendo minha geração uma das primeiras a ter acesso ao ensino superior) é uma conquista gigante, mas pra ser valida essa conquista preciso fazer a diferença.
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